segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O saber ouvir do mestre

Falamos sobre a figura do mestre, sobre formas de ensino, e ficamos buscando um modelo ideal de educação. Talvez seja uma busca constante, mas com elementos que podemos analisar se é interessante ou não, viável ou não, para tornar a educação um processo mais próximo do ideal. No texto de Rubem Alves – A arte de ouvir – temos um elemento relevante para levarmos em conta no que se refere a educação: a escuta.
Anteriormente, vimos a importância do professor em saber como provocar o aluno na busca do conhecimento sem ficar preso em apresentações teóricas pois estas estão ao alcance de formas variadas, sendo o professor aquele que vai despertar a curiosidade do aluno para que este vá de encontro as respostas que procura. E para que isso ocorra é importante que o professor saiba ouvir. O aluno tem perguntas a fazer, tem uma curiosidade natural que se o professor souber conduzir, ajudará a transformar o processo de educação em algo mais satisfatório para os dois lados.

Exercendo a escuta, o professor também dá liberdade para que o aluno se expresse melhor, sendo fundamental essa expressão pois desperta também a criatividade desde aluno que é um dos elementos importantes nesse processo de educação.

Aprender a ver... além

Após a leitura do texto "A arte de ver" de Rubem Alves, percebemos que 'ver' pode não ser algo tão simples quanto parece. Vemos, sim. Nossos olhos veem. Mas será que vemos de fato o real? Segundo Alves ver não é algo tão natural assim. É preciso que se aprenda a ver. E se faz parte de um aprendizado, é preciso que sejamos educados quanto a isso. 
Para se ter essa visão mais além é necessário uma certa sensibilidade que talvez não tenhamos acesso mediante uma educação dentro de uma visão mais tradicional. A educação deve nos preparar para transcender ao conhecimento dado para que possamos recriar aquilo que aprendemos mediante um conhecimento base. E para isso um novo modelo de professor seria ideal para fazer esse papel, como o próprio autor menciona, e relembrando as figuras dos mestres discutidas anteriormente, um professor orientador que nos aponte uma direção e nos permita ver por nós mesmo.

sábado, 7 de outubro de 2017

Novas formas de ensino: figura do Mestre

No post anterior, descrevi muito brevemente sobre os métodos socráticos usando os sofistas como comparação me justificando ao final a importância de se conhecer tais métodos para entender como se dá a transmissão dos ensinamentos nos dias de hoje e as relações entre a figura do mestre e seus alunos. Vimos que existem várias formas de se transmitir o saber: de forma indutiva/ imposta pelo mestre, em que este apenas expõe seus conhecimentos - muitas vezes formados por opiniões pessoais sem uma preocupação com a verdade - induzindo os expectadores a apenas reproduzir sua fala e o fazendo perante uma assembléia; e a forma socrática, que desperta o conhecimento já existente dentro de cada indivíduo, ajudando-o a encontrar as suas respostas, fazendo isso com pequenos grupos ou até mesmo individualmente. 

Partindo do pressuposto de que possuímos o saber internalizado em nós poderíamos pensar que não se faria necessária a figura de um mestre para ensinar algo. Mas se observarmos pelo ponto de vista socrático, mesmo possuindo o saber, se faz necessário a figura de uma pessoa que sirva de orientador/guia para que esse saber venha a ser conhecido pelo sujeito pois sozinho ele não conseguiria “recordar” esse saber. A figura do mestre como impositor não se faz necessária para a aquisição do conhecimento cabendo apenas ao sujeito ter o desejo/ a sede desse conhecimento e ir buscá-lo.

Há tempos se questiona a figura do mestre como detentor de todo o saber. Desde os sofistas essa forma de ensino se perpetua até os dias atuais podendo ser observado, em alguns casos, professores que se colocam como fonte do conhecimento impondo a sua forma de ver determinado assunto restringindo certa amplitude do tema por parte de quem recebe aquelas informações, nesse caso, seus alunos.

A crítica a esse modelo de mestre está no fato deste seduzir o ouvinte com sua retórica indutiva, que transmite determinado conhecimento influenciado por suas opiniões pessoais, de forma que este ouvinte não consegue atingir o conhecimento pleno pois não há, nesse método sofista, uma forma de promover o debate, dificultando a amplitude deste saber, tornando o indivíduo um mero reprodutor acrítico e limitado, incapaz de elaborar seu próprio saber. Tal fato pode ser observado também nos discursos de alguns políticos e representantes religiosos que usam o seu discurso de forma emotiva promovendo um espetáculo que captura a atenção de quem o escuta induzindo-o a crer somente em suas palavras sem abrir a possibilidade para um diálogo sobre o assunto.
Apesar dos sofistas serem duramente criticados em seu método restritivo, não podemos desconsiderar o fato destes terem propagado o saber para um maior número de pessoas.

O que acontece é a tentativa de desconstrução desse método que ainda se perpetua para que as pessoas busquem o saber de forma mais independente e que com isso se aprofunde nessa busca formando um grande campo de conhecimento, estando ela em qualquer lugar, como é a proposta do ensino à distância.

Sócrates e seus métodos

Todo mundo que estudou filosofia em algum momento da vida, e até mesmo quem nunca a estudou, não tem muita dificuldade em saber quem é Sócrates devido a sua famosa frase: "- Sei que nada sei". E o que tem por trás dessa frase? 

Para entender seus métodos de ensino, voltemos um pouco para entender como eram as formas de ensino nessa época. Na antiguidade, existiam pessoas detentoras do conhecimento a qual se dava o nome de Sofistas. Esses sábios - os sofistas - transmitiam seus conhecimentos da forma como eles o sabiam sem uma preocupação se aquilo era verdadeiro ou não. Sempre se valiam de suas opiniões e, assim, em suas assembleias, transmitiam aquele conhecimento de forma a induzir os espectadores a apenas reproduzir aquelas informações. (Qualquer semelhança com as formas de ensino atuais não é mera coincidência. Podemos observar muitos professores se utilizando de métodos sofistas até hoje). Um grande problema nessa forma de ensino é o de não permitir um diálogo entre transmissor e espectador, ou seja, não existe a possibilidade de conduzir o espectador a elaborar o seu próprio conhecimento. E é aí que entra Sócrates na história.

Ao contrário dos sofistas, Sócrates dialogava com o indivíduo afim de que este pudesse elaborar seu próprio conhecimento, pois, para Sócrates todos o possuem mas não sabe ou não lembram que o possuem - estamos distanciados do nosso saber. Sendo assim ele faz uso de um método próprio para fazer com que esse indivíduo atinja o saber através de si mesmo. Ele também fazia isso através de pequenos grupos, ou com uma pessoa por vez, diferente dos sofistas que transmitiam seus conhecimentos através de grandes assembleias.

Em relação ao método de Sócrates, ele se divide em três momentos:

Num primeiro momento, Sócrates convida o interlocutor para buscar o conhecimento se colocando em condição de igualdade com este, demonstrando não saber sobre, dando início ao diálogo, levantando questões das quais o interlocutor precisa encontrar as respostas.

O segundo momento de seu método, Sócrates usa da ironia para que o indivíduo entre em contradição com suas afirmações, levando-o a produzir um novo conhecimento. Segundo Reale, Sócrates joga com o interlocutor através de fingimentos e disfarces (REALE, 1993, p. 310) onde finge não saber e assim vai direcionando o indivíduo a encontrar as respostas dentro de si dentro de uma nova realidade despertada.

Nesse terceiro momento, e último por assim dizer, é marcado o uso da maiêutica em que Sócrates força o indivíduo a buscar respostas causando um certo desconforto neste por perceber que já não se sabe mais nada, até que devido a novas tentativas, o indivíduo consegue obter uma resposta que se aproxima mais do conceito ideal e aí o indivíduo se liberta de sua própria ignorância.

Mas, para que entender os métodos socráticos? A forma como Sócrates conduzia o ensinamento nos permite observar a importância do diálogo no processo de transmissão do saber. Isso nos traz uma reflexão das formas de ensino dadas na atualidade que nos faz observar que possuímos mais de um método e não apenas um. E dentre essas várias formas, tem se destacado o ensino à distância, mas será assunto para um próximo post.

Até breve!

Referências:
REALE, Giovanni. História da filosofia antiga. São Paulo: Loyola, 1993.